Mercado imobiliário • Preço das casas • Investimento
20 Junho 2022
Entre a Estação de Santa Apolónia e a Marina do Parque das Nações, há uma linha de 6 quilómetros em frente ao Rio Tejo que compreende alguns dos topónimos menos valorizados de Lisboa: Xabregas, Grilo, Beato e Marvila.
Mas Beato e Marvila têm-se feito ouvir. E o eco dessas vozes tem atraído atenção e expectativas. E investimento.
Por VIC Properties.
OLHEMOS PARA OS NÚMEROS
Comecemos pela freguesia do Beato (que compreende os bairros de Xabregas e Grilo): segundo as Estatísticas de Preços da Habitação ao nível local do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre o 1T de 2018 e o 4T de 2021, a mediana dos preços/m2 subiu 62,5%.
Num total de 24 freguesias, esta foi a segunda maior subida em toda a cidade de Lisboa, seguida dos Olivais (60,3%), Penha de França (48,2%), e Ajuda (47,5%).
Mas o que é verdadeiramente surpreendente? É que esta variação representa apenas metade daquela que foi a evolução dos preços da freguesia de Marvila no mesmo período: 124,9%.
Qualquer pessoa com algum capital e boa dose de amor ao dinheiro que olhe para o Gráfico 1 (note-se que entre o 1T 2018 e o 1T 2019 os valores de transação subiram 87,9%), pensará que perdeu uma ótima oportunidade de investir em Marvila em 2018.
Porque quando olhamos para aquelas que são as estatísticas oficiais dos preços da habitação em Lisboa, a conclusão mais óbvia é de que as casas daquela freguesia (mais que) duplicaram o seu valor de mercado em menos de 4 anos...
Mas e se lhe disser que isso pode não ser necessariamente verdade?
A má notícia é que a leitura de estatísticas sem contexto pode sugerir equívocos. A boa notícia é que o melhor timing para investir em Marvila pode ainda não ter passado.
O PRATA RIVERSIDE VILLAGE
Quando se percorre a frente ribeirinha da freguesia de Marvila, numa zona também conhecida por Braço de Prata, é praticamente impossível não reparar nos estaleiros de construção civil e nos edifícios de arquitetura arrojada que ali apareceram nos últimos 4 anos.
Os planos para um empreendimento naquela localização já têm duas décadas, e a sua história inclui um longo processo de aprovação camarária, uma insolvência e investimento estrangeiro.
O resultado é este: o Prata Riverside Village é a única unidade residencial, desde as moradias de São João de Estoril em Cascais aos apartamentos da Marina do Parque das Nações, com (algumas) unidades literalmente em frente ao rio/mar, sem sequer uma estrada ou linha de comboio a separá-la da água.
O que diverge drasticamente da ocupação industrial que carateriza grande parte da frente ribeirinha lisboeta.
Por Michele.
MAS AFINAL, O QUE MUDOU?
Parte da valorização supersónica dos preços das casas em Marvila é explicada pelo aparecimento de imóveis novos, a preços que contrastam radicalmente com o valor de mercado daqueles que já lá existiam. Vendiam-se poucas casas em Marvila e aos valores mais baixos de toda a cidade de Lisboa.
Ou seja, em rigor não se poderá dizer que o valor das casas em Marvila tenha duplicado. O perfil do parque residencial daquela freguesia é que mudou, por via da introdução de um tipo de produto que destoa da oferta original.
As casas que estavam a ser vendidas no início de 2018 (a valores medianos inferiores a 1.500€/m2), poderão não representar o grosso das vendas aos dias de hoje (negociadas a 3, 4 ou 5 vezes daquele valor).
O Prata Riverside Village (e outros empreendimentos muito em breve: Jungle Lofts, Prateato, The Brick...) altera(m) a perceção do valor do solo por via das transações que geram, a valores/m2 muito acima daquela que era até há pouco tempo a realidade local. É o efeito que um empreendimento hipermediático – com a assinatura de um arquiteto agraciado com um Prémio Pritzker, uma localização privilegiada, e a ambição de revolucionar aquela zona da cidade – produz sobre a expetativa da evolução do valor/m2 numa freguesia que, até há poucos anos, boa parte dos lisboetas teria dificuldade em localizar no mapa.
Porque a variação mais significativa do preço do solo em Marvila não ocorre necessariamente no momento em que são vendidos apartamentos novos com vista rio a valores mais elevados.
Ela deve(rá) ocorrer no dia em que estes empreendimentos tiverem conseguido atrair uma rede de serviços, dinâmicas sociais e estruturas, que impactem de tal forma aquela comunidade local, que o simples significado da palavra Marvila, tenha um significado diferente para a generalidade das pessoas.
E a VIC Properties (o promotor imobiliário do Prata Riverside Village) não tem deixado o destino nas mãos de alguma "mão invisível".
Cuidados como a não alienação dos espaços comerciais do empreendimento, chamando a si a decisão sobre o tipo de retalho que ali se instala, o estatuto de parceiro oficial da Lisbon Week 2022 (edição totalmente dedicada a Marvila), ou a cedência de espaços comerciais a artistas que se viram sem espaço de trabalho na sequência da pandemia, sugerem que o compromisso daquele promotor não acaba com a entrega dos apartamentos.
Porquê? Provavelmente porque a sua visão e ambição para Marvila não termina naqueles edifícios de arquitetura arrojada.
Por Google Maps.
ENTÃO, O QUE AINDA ESTÁ PARA VIR?
A imagem de satélite acima compreende toda a área de Marvila (as fronteiras da freguesia estão assinaladas tenuemente a linha vermelha) e parte da sua vizinhança. Ela ilustra bem – mesmo sabendo que boa parte daquele espaço verde diz respeito ao Parque da Bela Vista – como Marvila parece ter bastante mais área potencialmente urbanizável que as freguesias vizinhas.
Com exceção do Lumiar e de Santa Clara (que partilham aquilo que se costuma desginar por Alta de Lisboa), é difícil de imaginar outras freguesias da capital onde se possa sequer conceber um número de habitações novas comparável ao que Marvila pode oferecer.
O círculo junto à margem do Rio Tejo assinala os terrenos da Matinha, que a VIC Properties adquiriu em 2019 ao Novo Banco.
Pouco se sabe ainda sobre o projeto, mas a imprensa tem anunciado – além dos milhões investidos na descontaminação dos solos – que o terreno terá 20 hectares, e que deverá compreender a edificação de cerca de 2.000 casas. Um projeto destes necessitará seguramente de muitos anos até estar terminado, e quaisquer riscos que possam decorrer da sua implementação, representarão também uma parte do risco de quem ali quiser investir.
Agora repare por favor na sua localização: trata-se do pedaço de terra que está entre o Prata Riverside Village e o Parque das Nações. Ou seja, esta urbanização assegurará uma continuidade do edificado residencial entre a zona do Braço de Prata e aquilo que os lisboetas costumam designar simplesmente como "Expo", numa alusão à exposição universal que ali se realizou em 1998.
Marvila não vai ficar igual. Nem os preços das casas (muitas delas, distantes do Tejo e destes novos empreendimentos), que eram transacionadas a 1.500€/m2 há 4 anos.
Há quem lhe chame processo de contágio positivo. Haverá quem chame gentrificação. De um processo de mudança, não se pode esperar que surjam apenas coisas boas. Mas a requalificação daquela zona ribeirinha, e a valorização do que Marvila significa para os lisboetas e para o mundo, isso já ninguém poderá mudar.
E a ideia de que aquele local se parece com a definição pura e dura do indicador mais relevante para a valorização dos ativos residenciais:
A perceção de que viver num dado sítio ao dia de hoje é melhor do que seria ter vivido ontem, mas nem de longe tão bom quanto será viver amanhã.
Por VIC Properties.
A esmagadora maioria daquilo que foi abordado neste artigo, diz respeito à zona de Marvila que mais próxima está do rio, usualmente designada por Braço de Prata. Sendo que é expetável que a linha de comboio seja, agora e no futuro, uma espécie de fronteira entre aquilo que poderá ser visto como "apetecível" e "muito apetecível".
Mas como a imagem de satélite retirada do Google Maps ilustra tão bem, esta freguesia não se esgota nas margens do Tejo.
O resto fica para o próximo artigo. Mas partilho desde já que Marvila é a localização escolhida para aquela que será a maior obra pública da última década em Portugal. E cuja adjudicação deverá ser conhecida no próximo mês.